22 março 2016

FREIXO DE ESPADA À CINTA: Leitura de poemas no Museu da Seda e do Território assinala o Dia Mundial da Poesia



De Bocage a Guerra Junqueiro. Por Fernando Pessoa e Miguel Torga. Houve Jorge de Sena e Mário Cesariny. E Ary dos Santos. Assim se assinalou na segunda feira o Dia Mundial da Poesia no Museu da Seda e do Território.
A sala estava completa para declamar e ouvir grandes autores, porque grande foi a sua obra em Portugal e além fronteiras. No final ficou a certeza da organização de mais tertúlias nomeadamente sobre escritores nascidos em Trás-os-Montes.

CHAVES: “Destino Rebelde” de Raquel Cetra

“Destino Rebelde” é o título da última obra literária apresentada na Biblioteca Municipal de Chaves, no passado dia 18 de março, da autoria de Raquel Cetra. Em representação do executivo municipal esteve o Vereador João Neves, tendo a apresentação do livro ficado a cargo de Celestino Paiva Chaves.

 
O romance desta jovem autora, de ascendência paterna em Águas Frias, tem por enredo a vida de um advogado, João Francisco, com início em Vila Verde da Raia enlaçando com a beleza alentejana.

 
A figura de João Francisco, o menino que se atreveu a sonhar, deu lugar ao homem que ambiciona a felicidade. João Francisco Teixeira, um jovem transmontano, sonhador que avança contra todos e contra todas as expetativas, apoiado num forte sentimento liberal, quis ser advogado e um aluno brilhante, correu atrás do sonho e conseguiu sê-lo. Compra ódios, multiplica paixões, subtrai amizades e divide pessoas... Cresce ao sabor da história acompanhando o país nas suas vitórias, celebrando-as e chorando as mesmas tristezas. Sempre com a força e coragem características de um povo, que é o nosso, o português... Conheceu a dureza do regime, os martírios da guerra e o ostracismo, sempre com a determinação das suas raízes flavienses. Quando tudo parecia ficar normal, eis que a vida não lhe reserva ainda o final esperado... A sua vida ganha um novo sentido... Com a mesma humildade de sempre, retorna a Vila Verde da Raia, para se despedir do seu irmão, mais novo.

 

Raquel Filipa da Silva Cetra

 

Nasceu em Fevereiro de 1997, em Évora e reside em Portel.

Estudou em Portel até ao nono ano. Primeiro no Jardim de Infância, de seguida na Escola Primária de Portel e depois na E,B. 2,3 D. João de Portel.

Escolheu Línguas e Humanidades na Escola Secundária Severim de Faria, em Évora.
Desde os seus dez anos vive com a escrita dos sonhos, poemas e histórias sobre o Alentejo, ou o Norte, de onde tem uma costela, devido à sua ascendência paterna de Águas Frias. Ou até sobre histórias de vida numa sociedade que já não deixa muito para sonhar. 

Atualmente frequenta a licenciatura de Relações Internacionais na Universidade de Évora.

17 março 2016

VILA FLOR: Francisco Moita Flores apresenta "O Dia dos Milagres".



O escritor, antigo inspetor da Polícia Judiciária e ex-presidente da Câmara de Santarém, Francisco Moita Flores, apresentou no dia 12 de março, em Vila Flor, o seu livro “O Dia dos Milagres”, um romance histórico, apaixonante, que conta os dias vividos por D. João IV e Luísa de Gusmão, quando preparam o golpe que haveria de conduzir à Restauração em 1 de Dezembro de 1640.

 É uma obra sobre Portugal e os portugueses do séc. XVII. Sobre os nossos medos e os nossos sonhos, depois da imensa tragédia que o foi o desastre de Alcácer Quibir, onde D. Sebastião perdeu a vida em 1578. O autor centra a ação em Vila Viçosa, onde viviam os Duques de Bragança, e conduz-nos pelos dias de ansiedade, dias terríveis, vividos entre crenças e superstições, marcados por revoltas e sofrimento, num Portugal pobre e cansado, traumatizado por aquela tragédia de Alcácer Quibir.

Francisco Moita Flores, considerado pela crítica como um dos grandes argumentistas do país, é reconhecido do grande público pela sua obra literária e pelo seu trabalho como dramaturgo para televisão, cinema e teatro. Tem uma vasta obra publicada e produzida de que se destacam os romances ‘Mataram o Sidónio!’, ‘A Fúria das Vinhas’, ‘ O Bairro da Estrela Polar’, ‘O Dia dos Milagres’, entre muitos. E as séries ‘A Ferreirinha’, ‘O Processo dos Távora’, ‘Alves dos Reis’, ‘João Semana’ e ‘Quando os Lobos Uivam’.

CHAVES: Dia Mundial da Poesia

 
O Teatro Experimental Flaviense festeja mais um ano de poesia com o espetáculo de Comemoração do "Dia Mundial da Poesia". E como “um grão de poesia basta para perfumar todo um século”, assim será, com muita poesia e música.
 
Org.: Teatro Experimental Flaviense
Apoio: USAF Universidade Sénior de Chaves

RIBEIRA DE PENA: 191º Aniversário de Camilo Castelo Branco


15 março 2016

BRAGANÇA: "Mesa Nacional" apresentado no passado sábado



Foi apresentado, no passado dia 12 de março, o livro "Mesa Nacional", de Paulo Salvador - Jornalista da TVI - , no Auditório do Conservatório de Música e de Dança de Bragança, no Centro Cultural Municipal Adriano Moreira. 
A apresentação ficou a cargo da Chef Justa Nobre.

MURÇA: Promoção da Leitura na Escola

No contexto da “Semana da Leitura”, a Biblioteca Municipal de Murça realizou a atividade “Estafeta do Conto”, na manhã do dia 14-03-2016, com deslocações aos três infantários do Município: Jardim de Infância da Santa Casa da Misericórdia, Jardim de Infância do Centro Escolar e Jardim de Infância de Murça.

09 março 2016

Apresentação do livro "A Linha do Vale do Sabor, um caminho-de-ferro raiano do Pocinho a Zamora" e exposições conexas, no próximo dia 19 do presente mês, pelas 15h, na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa.

http://webrails.tv/tv/?p=22643

https://ctmad.pt/conheca-o-nossa-agenda-e-os-proximos-eventos-da-casa/

SABROSA


Apresentação do livro “Caboverdianas en Burela (1978-2008) – migración, relacións de xénero e intervención social” de Luzia Oca González

“Caboverdianas en Burela (1978-2008) – migración, relacións de xénero e intervención social” de Luzia Oca González
PrÉmio Vicente Risco de Ciencias Sociais - 2014

 
O marco teórico principal que guía este traballo sitúase na confluencia das teorías articulacionistas e feministas, partindo da consideración de que os procesos migratorios son procesos xenerizados, mediatizados por relacións de poder, nos que os traballos femininos adoitan ser desvalorizados socialmente, ocultando a calidade de suxeitos activos das mulleres migrantes. Preténdese non só seguir a tradición dos estudos sobre xénero e migracións que colocan a énfase nas discriminacións sufridas polas mulleres inmigrantes, senón tamén na que as mostra como actoras sociais, con capacidade de axencia e de despregar estratexias que poñen en conxunción orixe e destino, construíndo redes no espazo transnacional.

O traballo de campo no que se basea esta investigación foi realizado en Burela dende 1998, con algúns períodos de ausencia, mais cunha continuidade determinada por ser lugar de residencia da autora. A súa primeira viaxe a Cabo Verde en 2000 foi seguida de moitas outras, tendo viaxado ao arquipélago todos os anos agás dous até 2013, ano de conclusión da tese de doutoramento que serviu de base para o presente volume.

Luzia Oca González é Doutora en Antropoloxía Social pola USC, coa tese: “Caboverdianas en Burela (1978/2008). Migración, relación de xénero e intervención social”. Docente da Universidade de Tras-os-Montes e Alto Douro (UTAD) desde 2004, o seu traxecto profesional tense repartido entre a docencia, a investigación e diversos proxectos de intervención social baseados en metodoloxías participativas com perspectiva de xénero, en Galiza e Cabo Verde.

 

07 março 2016

VILA POUCA DE AGUIAR: Concurso Literário para crianças e jovens

A Câmara Municipal vai levar a efeito a terceira edição do Concurso Literário que é destinado aos alunos dos 1º, 2º e 3º ciclos e ensino secundário.
Os três melhores de cada grupo de ensino serão premiados com materiais didáticos (entre 50 a 250 euros).
Relativamente às normas de participação, o Concurso Literário é para alunos naturais e/ou residentes no concelho e o trabalho é em prosa sob o tema liberdade.
O prazo da entrega de trabalhos (com identificação e pseudónimo, letra arial 12 e 1.5 de espaçamento) é de 10 a 21 de março, os resultados serão conhecidos no dia 20 de abril e a cerimónia de entrega de prémios será no 25 de Abril.
 
 
 
 

BARROSO DA FONTE: V Encontro Livreiro e Leitor de Trás-os-Montes

«Não participei mas vi o resumo do pequeno vídeo que apareceu na net. Um cenário curioso que poderá ter desalentado quem observou a exiguidade do espaço e do ambiente em que decorreu o V encontro sobre o livreiro e o leitor, em Vila Pouca de Aguiar, em 21 de Fevereiro de 2016. Imagino quão importante é a participação anual nesse tipo de troca de experiências.

As viagens, a pouca participação, o menosprezo pela actividade que foi tão meritória pelos tempos fora e hoje corre o risco de desaparecer sem que haja um reconhecimento público por quantos cumpriram essa forma de formar e de informar. Sendo uma profissão nobre nos primeiros temos da livro é hoje um declínio apressado para a extinção inevitável.

Em Vila Pouca ainda foi um representante da Câmara. Mas há autarcas que nunca se habituaram a ler, nem a valorizar essa nobre e dignificante actividade. As Câmaras deveriam ser as primeiras instituições a ser apoiadas porque prestam altíssimos serviços, em troca de quase nada. Mais: muitas vezes recorrem ao interior do concelho para irem negociar com centros urbanos, pagando mais e mais transtornos para engrossarem os estoques. Gostei de visionar o vídeo e como leitor e autor felicito quem teve a ideia e a tem concretizado. Bem hajam!»

 Barroso da Fonte

04 março 2016

VILA REAL: “A Princesa do Corgo” de Emílio Miranda

O romance “A Princesa do Corgo” de Emílio Miranda está novamente à venda a partir de ontem, no entanto a obra, que retrata a fundação da cidade de Vila Real, tem agora um novo título, por opção da Editora “Linhagem de Bravos”.

Este romance retrata a determinação do Rei D. Dinis de criar a cidade de Vila Real.

Um trabalho de recolha e que demorou cerca de vinte anos a ser redigido, um romance que nos transporta à Época Medieval.

Emílio Miranda refere que este livro retrata a vida dos verdadeiros heróis, os homens do povo que suportavam inúmeras dificuldades para lutar pelo pão de cada dia.
O romance de Emílio Miranda “ A princesa do Corgo” chama-se agora “Linhagem de Bravos”.

JOÃO DE DEUS RODRIGUES "Oito de Março, dia da Mulher"

 

O homem, nesse dia, fá-la rainha.
Mas é um desplante, 
Uma ironia.
Para quem dá vida,
E é companheira e amante,
Dedicar um só dia,
A quem ama os filhos,
E o seu semelhante.

E mais, ainda.
É a Mulher,
Quem ampara a infância,
E acarinha a velhice.
Com o seu Amor,
Essa dádiva constante.

Então,
Pergunto eu:
Porquê, dedicar um só dia,
A quem dá o seu coração,
E merece, eternamente,
O Amor do Mundo,
A todo o instante?


       João de Deus Rodrigues

in: Livro " O Clamor dos Campos" - Edições Colibri.

03 março 2016

BRAGANÇA: Museu da Língua Portuguesa deverá nascer em Bragança

O equipamento cultural está projectado para os antigos Silos, junto ao IPB.
O projecto de criação do Museu da Língua Portuguesa, a nascer em Bragança, está a ser elaborado e espera-se que obtenha financiamento de fundos comunitários. O plano, tanto do ponto de vista científico como organizacional, já está pronto, estando o processo a ser gerido pela Associação Promotora do Museu, constituída notoriamente, em Setembro de 2014, e que é composta por três entidades, a Academia de Ciências, Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e Câmara Municipal.
O espaço deve nascer nos antigos Silos da EPAC na cidade, que pertencem ao IPB, e serão cedidos para este efeito.
De acordo com o município, a empreitada está orçada em 3,5 milhões de euros, não estando ainda o projecto fechado.
De acordo com o escritor e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Ernesto Rodrigues, que desde início esteve ligado a esta ideia, a pedido de Adriano Moreira, o nascimento desta iniciativa em Bragança justifica-se “plenamente, por ser uma capital de distrito, que é terra de duas línguas. É a única no país cujo distrito tem duas línguas, e o mirandês sendo minoritária é também nacional”.
O director do Centro de Literaturas e Cultura Lusófonas e Europeias, considera que “haverá do lado de lá da fronteira um interesse, que irá para além do turismo, que permitirá trabalhar questões da língua da cultura e da literatura”.

Jornal Nordeste


02 março 2016

VILA POUCA DE AGUIAR: V Encontro do Livreiro e do Leitor de Trás-os-Montes e Alto Douro


MONTALEGRE: Custódio Montes apresenta "Outono"


Custódio Montes, natural de Parafita,  concelho de Montalegre, apresenta no próximo dia 7 de maio, no salão nobre dos Paços do Concelho de Montalegre, uma obra literária, em formato poesia, com o título “Outono”.
A cerimónia contará com a presença de um grupo de fados de Coimbra.

BENTO DA CRUZ por A.M. Pires Cabral


Bento da Cruz ainda viveu o suficiente para ver comemorados, em 2013, os seus cinquenta anos de vida literária. E que vida literária! Iniciou-se em 1963, com o romance  Planalto em Chamas, e prosseguiu ao longo de cinco décadas, com uma produção impressionante, que compreende nada menos de oito romances, uma novela, três livros de contos, dois livros de crónicas e cinco livros de ensaios e afins, além de actividade jornalística vária. (É certo que há também um livrinho de poesia, de 1959, mas é uma ‘carta fora do baralho’, como se diz hoje, de menos valor face ao resto da produção e, de qualquer modo, de um género literário que Bento da Cruz logo abandonaria, não o reconhecendo como a sua forma natural de expressão artística.)

            Recordo-me de ter adquirido em Coimbra, onde estudava em 1963, o romance de estreia, Planalto em chamas, que li com avidez porque me levava a terras trasmontanas — no caso o Barroso, cenário que Bento da Cruz nunca mais abandonaria. Li-o — e confesso: foi amor à primeira vista por uma obra tão exemplarmente talhada, em carne e sangue, na realidade humana de Barroso.

            De Planalto em chamas para cá, publicou Bento da Cruz mais dezoito títulos: onze de ficção, dois de crónicas e cinco de ensaio (histórico, biográfico, etnográfico, sobretudo). Algumas dessas obras são verdadeiras obras-primas, como O lobo guerrilheiro, A loba e a muito recente Fárria.

            Em matéria de narrativa (romance, novela, conto — no fundo a vocação maior de Bento da Cruz), no panorama literário trasmontano, só Camilo Castelo Branco, Guedes de Amorim, Domingos Monteiro, João de Araújo Correia e António Modesto Navarro poderão responder com uma obra ficcional tão volumosa.

            Mas números são números ― dados puramente quantitativos, que têm a importância que têm. Pode-se escrever imenso e ‘não dar duas para a caixa’, como diz o nosso povo. Dá-se porém o caso de que a qualidade da escrita de Bento da Cruz corre parelhas com a quantidade. Aliás, os prémios literários obtidos, de expressão nacional e também galega, confirmam isso mesmo. Para além de um notável cronista, atento e confiável, da vida barrosã, Bento da Cruz é um escritor de primeira água, um poderoso criador de histórias, personagens, ambientes e situações. A esse respeito, lembremos uma feliz síntese da crítica Fátima Maldonado:

«A capacidade ficcional de Bento da Cruz é assombrosa, lembra às vezes a de Garcia Márquez.»

Apetece dizer: e lembra a do próprio Camilo que Bento da Cruz tanto admirou e estudou. Lembremos que Camilo dizia que não tinha imaginação, mas apenas memória — modo de dizer que não criava as suas histórias ab nihilo, mas apenas recordava lances testemunhados ao longo da sua vida aventurosa. De Bento da Cruz se pode dizer outro tanto: há na sua escrita uma tal verdade e autenticidade que só pode ser fruto da sua experiência de vida nas serranias natais de Barroso. Até aos 15 anos, participou  na labuta agrária da família, foi à lenha, jogou a rebindaima, guardou vacas, entusiasmou-se quando o boi de Peireses ‘podeu’ nas chegas, conheceu contrabandistas e outros figurões, padres devassos, gente da fárria, mendigos que dormiam noites gélidas de Inverno na quentura dos fornos do povo. De tudo isso se fez o lastro da sua ficção. Esta mesma experiência de vida é o motivo recorrente das suas crónicas tão amenas, tão verdadeiras.

            Impressiona igualmente em Bento da Cruz o ágil e sábio manejo da língua portuguesa, quer no registo clássico, quer no registo regional, no que toca à sintaxe como no que toca ao léxico. E também aqui é tentador o paralelo com Camilo, e também com Aquilino Ribeiro, esse outro gigante da literatura portuguesa baseada na ruralidade.

            Tudo isso é de algum modo confirmado pelo facto de a Editorial Notícias, ter aberto no seu catálogo um espaço exclusivo chamado ‘Obras de Bento da Cruz’. Não são muitos os escritores que se podem gloriar de uma tal distinção.

            Gostaria de insistir neste ponto: Bento da Cruz é um grande e relevante vulto das letras, não só trasmontanas, como nacionais, que pede meças a qualquer outro, incluindo alguns que têm por trás deles máquinas editoriais poderosas a promovê-los, às vezes muito para além dos seus reais méritos.

E gostaria de deixar isso bem claro em Montalegre, capital do mundo rural a que Bento da Cruz pertence, mundo em que se fez gente, mundo que lhe deu a sina de escritor, mundo que foi sempre uma das grandes paixões confessas da sua vida, mundo que ele celebrou como ninguém nos seus livros. 


Conheci Bento da Cruz aí por 1977 ou 78, em Vila Real. Foi-me então apresentado por um amigo comum, o poeta António Cabral. Mas uma verdadeira relação de amizade e camaradagem só se estabeleceria mais tarde, nos anos 80, no âmbito das Jornadas Camilianas de saudosa memória, em que ele participou por várias vezes como camiliano convicto e informado que era.

Vivendo longe um do  outro, escrevíamo-nos, não propriamente com frequência, mas com a regularidade bastante para irmos cultivando a nossa amizade. A partir de certa altura, as cartas (e mais tarde os e-mails) começavam não por ‘Caro Bento da Cruz’ ou ‘Caro Pires Cabral’, mas, respectivamente, por ‘Caro Marinheiro’ e ‘Caro Ceboleiro’. As razões deste tratamento, que traduz já uma fraternal cumplicidade, são conhecidas. Dele, lera eu em mais de uma obra sua que ‘Marinheiro’ era a alcunha (perfeitamente assumida) da família. De mim, sabia ele que nasci na aldeia de Chacim, Macedo de Cavaleiros, a cujos naturais, segundo o erudito Abade de Baçal e a voz corrente entre as gentes daqueles lados, cabe o apodo de ‘Ceboleiros’ — referência, sem dúvida, à antiga e grande Feira das Cebolas que ali se realiza a cada 10 de Setembro. 

Tive o grande gosto de apresentar livros seus e o gosto ainda maior de ver livros meus apresentados por ele. Oferecíamo-nos livros com dedicatórias em termos de grande afecto. Havia entre nós, além da tal cumplicidade, um sincero apreço recíproco.

Fazem-me falta as cartas de Bento da Cruz. Fazem-me falta a sabedoria serena, o sentido de humor, a mestria literária de Bento da Cruz. E mais falta farão eles, acredito, às terras de Barroso que o viram nascer e que tiveram nele um cronista de primeira água. Cronista, disse eu. Não que seja a crónica a sua forma natural de expressão (embora seja também um consumado mestre no género: vejam-se os saborosos apontamentos dos Prolegómenos). Mas porque os seus romances valem por uma fotografia de corpo inteiro de Barroso, suas gentes, sua cultura, sua história, sua paisagem, sua fauna e flora, seu clima agreste.

É que Bento da Cruz, mesmo vivendo em diáspora, nunca despiu a pele de barrosão. De Barroso recebeu tudo, e, em paga, a Barroso tudo deu. Deu a sua arte, o seu amor, a sua gratidão de  filho. E deu também, na hora extrema, o seu corpo — que repousa em Peirezes desde 27 de Agosto de 2015. Onde melhor?

 
O Grémio Literário Vila-Realense teve nele um grande amigo e um colaborador sempre disponível. Mesmo quando já visivelmente fragilizado pela idade, respondeu sempre às chamadas que lhe foram feitas (que ele — disse-me um dia — graciosamente tomava não como pedidos, mas como ordens) e desincumbiu-se sempre de forma primorosa das tarefas que lhe propusemos.
Amigos destes estimam-se enquanto são vivos. Assim o fizemos. E, quando partem, guardam-se na memória com o máximo carinho de que sejamos capazes. Assim o faremos