25 agosto 2015

A VIDA, por Cláudio Carneiro




A VIDA

A vida é um rio, é a morte o mar
Que se evapora por volver à vida.
E nós a essência, para ser vivida
Num Mundo inteligível, singular.

A terra, sem descanso, anda a girar,
É tal qual um comboio de corrida,
Entre quatro Estações, como perdida.
O vento é um cantor que agita o ar.

O Céu o que será? Ninguém o sabe,
É uma abstracção, que só a fé
O sabe discernir na crença antiga.

E Deus? Quem será Deus? Só a Deus cabe
Saber, que ninguém mais sabe quem é.
Se acaso alguém o sabe, então que o diga.
Cláudio Carneiro

21 agosto 2015

Para Que Este Mundo Não Acabe - Documentario Dedicado a Tras-Os-Montes


A SENHORA DA SERRA, por Cláudio Carneiro


          A SENHORA DA SERRA

 
Desamparada, assim, Menino ao colo,

Martirizada, triste, em desalento,

Na ermidinha da serra, exposta ao vento,

Habita a Virgem Mãe, resvés ao solo.


Constrange-me este quadro, o desconsolo

Desta humilde Mulher. Sem um lamento,

Descalça e mal vestida, em sofrimento,

Não fora no Menino achar consolo.

 

A aparição do anjo, o seu recado,

A concepção de Cristo, O Incriado,

Que é Pai e Filho, é Deus e é Jesus.

Não discerne, talvez, que afaga ao peito

Quem, no devir dos anos, Homem feito,

Será crucificado numa Cruz.


 
Com amizade, o chacinense


Cláudio Carneiro.  

06 agosto 2015

L’Eiternidade de las Yerbas / A Eternidade das Ervas - Apresentação



L’Eiternidade de las Yerbas / A Eternidade das Ervas

Ernesto Rodrigues
Universidade de Lisboa

Caros Amigos

Deixei de fazer apresentações públicas de obras e de ser apresentado. Abro esta excepção, porque às memórias felizes nunca podemos dizer que não. Amadeu Ferreira faz parte dessas memórias.
Entro no Seminário de Bragança, com 12 anos, e oiço falar de quem, seis anos mais velho, hiperactivo, procura aquilo que, nessa pequena comunidade intelectual, também eu perseguia: fazer-se um nome. Sou colega de Manuel Ferreira, já então artista, que se renova como a natureza que ele tão bem retrata nestas páginas de devoção ao irmão.
Ao deixar a Casa Amarela, aos 15 anos, em 1971 – que Amadeu abandonava no ano seguinte -, eu trocava jornais de parede ou a stêncil por títulos impressos, não querendo ficar atrás dos mais velhos, de Teologia, que me animavam a colaborar no Mensageiro de Bragança, onde o nosso sendinês já assinava.
Saudou, num encontro de acaso, a minha estreia em livro, em 1973, sendo essa generosidade, nele, um gesto fácil, sincero, sem reservas. Ficou, daí, uma cumplicidade noutros instantes reiterada, até que, já assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, dou com ele, em 1990, frente à reitoria, acabava de se licenciar e de encerrar um difícil ciclo de vida, doravante memorada na obra que faz juz à sua grandeza de alma: O Fio das Lembranças. Biografia de Amadeu Ferreira, escrita por Teresa Martins Marques.
Redobrámos os contactos após 2002, quando nos revimos em tertúlia na quinta da Ribeirinha, Santarém, boleando-me até Oeiras, como de outras vezes faria. E abancámos para almoços regulares a partir de finais de 2009, quando me solicitou prefácio para a tradução de Os Lusíadas. As conversas tornaram-se regulares, os abraços semanais, projectos foram mil e um. À mesa, em sofás, em passeio, também nas longas viagens entre o Nordeste e Lisboa, discorremos sobre livros e autores, sobre as nossas origens e melhorias destas terras. Foi neste quadro que se pensou a Academia de Letras de Trás-os-Montes, a cuja comissão instaladora presidiu, e para cuja primeira presidência me lançou, jantávamos no Solar Bragançano, em 4 de Outubro de 2010.

03 agosto 2015

CHAVES - PERCURSOS DE HISTÓRICAS MEMÓRIAS de Maria Isabel Viçoso

Maria Isabel Viçoso acaba de publicar um belo e excelente livro sobre a história e as memórias da Cidade de Chaves
Depois de uma excelente carreira como professora do Liceu Nacional de Chaves, a nossa estimada conterrânea, natural da aldeia de Gralhós, Montalegre, dedicou-se por inteiro à Grupo Cultural “Aquae Flaviae”, coordenando em particular a publicação de perto de meia centena de números da revista com o mesmo nome, sempre plena de interesse, onde se divulgaram inúmeros aspetos ligados à região, subscritos por destacadas figuras, nas diferentes áreas do conhecimento ali referenciadas.
A apresentação desta obra ficou a cargo de António Cruz Serra,      Reitor da Universidade de Lisboa, seu antigo aluno, natural de Chaves, que se mostrou conhecedor dos traços históricos e culturais da urbe e  guardião de boas memórias da sua professora dos verdes anos. Foi delicioso seguir esse passeio de recordações pela cidade, ou melhor, pelas cidades, visto existirem, como disse, duas urbes sobrepostas, uma romana e outra sobre ela edificada desde então até aos tempos atuais; basta levantar uma pedra, onde quer que seja, para logo se revelarem vestígios dos tempos áureos da presença romana. O acontecimento mais recente deu-se há poucos anos quando ao se iniciarem as obras para a construção de um parque subterrâneo, frente ao Palácio da Justiça, logo se revelaram ali as ruínas de um antigo balneário termal, soterrado por aluimento de terras no século IV (depois de Cristo).
Este volumoso livro de 520 páginas com grande número de ilustrações a cores, constitui o referencial mais completo que conheço sobre o património histórico e cultural da cidade e arredores, uma obra de consulta indispensável para quem se interessa por estes temas e uma leitura obrigatória para todos os professores aqui colocados ao longo dos anos, que necessitam de uma cabal identificação com o território onde desenvolvem a sua importante missão de ensinar, de orientar e ajudar a crescer as gerações mais novas.
Não é de ânimo leve que alguém lança mão de um projeto desta envergadura; só quem consagra uma vida em obediência à concretização de causas pode estar à altura de um desafio desta importância. O mérito é exclusivamente seu e dos familiares e amigos próximos que acompanharam o processo, mas não podemos esconder o regozijo por vermos mais uma personalidade barrosã a distinguir-se pela importância e seriedade dos cometimentos que abraçou e pela ponderação e constância com que os realizou.
António Chaves